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Igreja e Anti-Igreja, pelo Cardeal Ottaviani



Igreja e Anti-Igreja

Cardeal Alfredo Ottaviani Há mais de dois séculos, em nome do Humanismo, o mundo, aquele mundo ao qual Jesus não quer pertencer, aquele mundo que se desintegra em vez de reunir, precisamente porque quem não está com Jesus espalha em vez de recolher, o mundo pretendeu criar a felicidade do homem distanciando-o da religião. E para melhor ter sucesso ele chamou de superstição como hoje os laicistas extremistas a chamam de "ópio do povo".


O paganismo teve seu apóstata Juliano em todos os séculos que tentam ressuscitá-lo.


O homem é infiel quando peca, porque se distancia do reino de Deus, tenta construir outro longe dele, sem ele, contra ele; o que por tantos séculos foram as sucessivas traições consumadas pelo homem na mente contra Deus após a reforma protestante, tomaram o nome de Iluminismo, racionalismo, humanismo e agora laicismo.


No laicismo convergem as mais díspares, as mais diversas concepções do mundo, desde as dos liberais (entre os quais também crentes) às do comunismo ateu; dos maçons, dos radicais àquelas do socialismo. Em nome do laicismo, foi assim dada batalha à Igreja (...).


Se lançaram contra a civilização cristã como não se lançaram contra o costume de Genghis Khan ou os vários Tamerlães. Pode-se dizer que a Igreja pode ter tido suas sombras em meio a tanta luz, pode ter tido seus fracassos; mas não se pode negar que a civilização mais bela que o mundo desfrutou e que produziu frutos de bens é a civilização cristã, tão repudiada hoje, pela influência que teve pela Igreja na sociedade civil e se algo ela não pôde fazer isso foi por causa dos obstáculos que estavam no caminho. E quais são os frutos da civilização laica, da civilização da anti-igreja?

São frutos de uma liberdade desenfreada que atingiu a licença dos costumes, que quase chegou à putrefação. Esses foram os frutos que levaram a colocar a ciência a serviço do genocídio, das câmaras de gás, da oposição às próprias leis naturais da geração; foi o fato de colocar as descobertas do progresso e da ciência a serviço da guerra, do bombardeio de cidades, mesmo que indefesas. Estes são os frutos da civilização laica; foram eles que encaminharam o mundo em direção a uma sede insaciável de gozo, de riquezas que até conduzem, mesmo, ao gangsterismo. É uma sede de prazer que levou às guerras; uma corrupção que muitas vezes termina naquelas consequências que se multiplicaram tanto nos dias que correm: suicídios, assassinos, loucuras. Estes são os frutos da civilização laica, da Anti-Igreja, obtidos apenas para ter a satisfação de gritar "não queremos que Cristo, por meio de sua Igreja, tenha a sua influência na sociedade". (...)


O que surgiu do laicismo? O prazer, o prazer até as consequências extremas, até a putrefação, até aquela mania luciferiana de gozar; para desfrutar de qualquer coisa que possa satisfazer esses apetites bestiais que enervam e tornam impotente até mesmo o jovem outrora próspero.


Repudiou a pax cristã. Jesus disse: "Dou-vos a minha paz, deixo-vos a minha paz, que não é a do mundo". Mas o mundo queria "sua" paz, o pacifismo dos laicistas; e nos congressos de paz foi excluído o representante do Príncipe da Paz. E as guerras se multiplicaram, as guerras travadas com tanta ferocidade, sem distinção de golpes, com todos os erros de que reclamamos dos últimos conflitos. Esses são os efeitos do laicismo; sem falar do ódio político na luta de classes, do ódio que é a antítese da caridade de Cristo, do ódio que é ministro da dor e ministro da morte. Estes são os efeitos da civilização laica, da civilização da Anti-Igreja.


Mas existe a Igreja, graças a Deus. (...) A Igreja que por Jesus foi dotada de todos os meios para levar o homem à salvação não só faz o bem sob o aspecto espiritual e sobrenatural, mas também sob o aspecto social; esta Igreja ensina que até o Estado está em dívida com Deus, porque não só o indivíduo é criado por Deus, não só o indivíduo goza dos bens que Deus concedeu à natureza; mas os indivíduos juntos, como sociedade, também dependem de Deus, a própria sociedade depende de Deus.


Se Deus não guarda a cidade, as sentinelas vigiam em vão. Esta sociedade, portanto, não pode ser laica; assim como o indivíduo não pode ser laico e, por outro lado, não pode se privar dos benefícios sociais que podem advir da ação santificadora da Igreja. Esta sociedade, se for bem tratada pelo Estado, recompensa-lhe as vantagens que podem advir da colaboração cordial e da compreensão mútua, sem a qual surge o conflito. De fato, sendo dois poderes que comandam e têm o direito de comandar cidadãos ou fiéis que são os mesmos indivíduos, podem, na falta de acordo, contrastar as consciências dos cidadãos e dos fiéis: cidadãos junto com fiéis. Se este acordo for observado, muitos benefícios sociais advêm dele (...).


O cinismo, porém, faz a grande acusação contra a Igreja: o politicantismo. Porque se intervém em problemas que direta ou indiretamente dizem respeito a sujeitos mistos ou em todo caso aqueles que têm reflexo na moral, se intervém nessas questões, dizem que está envolvido em política. Mas se a política toca o altar, como se pode deixar que a Igreja tenha o altar profanado, como podemos admitir que um sacramento, por exemplo o casamento, seja adulterado, profanado pelos laicos? É, portanto, evidente que a Igreja deve intervir para julgar se aqueles que têm o poder público usam o mesmo poder público para o bem dos cidadãos tanto sob o aspecto moral quanto sob o aspecto sobrenatural, pois tudo deve ser direcionado para o fim último.


Não fomos criados apenas para estar em uma pátria terrena; buscamos o eterno e não podemos, pelas coisas temporais, perder a pátria eterna.


Então, infelizmente -- mesmo entre os cristãos -- quando a Igreja intervém em certas questões que têm um reflexo imediato ou mediado na vida religiosa dos povos, há quem se atreva a dirigir-se a ela, apontar-lhe o dedo e dizer: "Você não tem nada a ver com isso". Mas, eu digo, eu pergunto: eles diriam essas palavras a Jesus, essas palavras que são um tanto blasfêmias, quase; e como eles podem dizer àqueles que estão cumprindo o mandato divino de dirigir os homens para evitar o perigo de perder o bem supremo? (...) Pois bem, aqueles católicos que tomaram um pouco do veneno laico devem considerar o mal que fazem... (...). Curiosos são estes cristãos, que no momento em que parece que está prestes a ser lançado o assalto que os perseguidores planejam contra a Igreja, no momento em que se deve fazer uma frente comum para salvar a civilização cristã para impedir o laicismo, o comunismo e todos os demais erros que unem forças contra a Igreja a fim de sobre Ela triunfar, estes cristãos começam a discutir, a disputar, como se o lado econômico fosse primordialmente importante!


São cooperadores do marxismo, portanto; são aqueles que vendem o direito de primogenitura da grandeza italiana e cristã, como Esaú, por um prato de lentilhas, vendeu seu direito de primogenitura. Como podem estes pretender não ser marxistas se colocam o material, o temporal em primeiro lugar, mesmo à custa do que é espiritual e sobrenatural; se não ouvem o que Cristo disse, que a primeira coisa a procurar é o reino de Deus, então o resto virá se nos fizermos dignos dele?


A Anti-Igreja, vejais, tenta penetrar na Igreja (...).


Cardeal Alfredo Ottaviani (1890 - 1979) - extrato do livro Il baluardo (pp. 47-59) - Edizioni Effedieffe

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