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Sermões: 20º Domingo depois de Pentecostes (sem data)

Sermão proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.

PAX XX Domingo depois de Pentecostes (sem data)


“Se não vedes sinais e prodígios, não credes”, diz Nosso Senhor em tom de reprovação. Mas por que Nosso Senhor fala assim? Este homem não havia pedido a Nosso Senhor para curar o seu filho? Não acreditava ele que Nosso Senhor podia curar o seu filho? Então por que Nosso Senhor diz: “Se não vedes sinais e prodígios, não credes”? Como explicar essas palavras?

A explicação está no pedido mesmo deste pai de família. Ele pede que Nosso Senhor venha à sua casa como se Nosso Senhor precisasse se locomover para poder agir sobre seu filho. Este homem recorreu a Nosso Senhor como se recorre a um homem e não como se recorre a Deus.

Ora, Nosso Senhor é Deus. Eis a grande verdade do Cristianismo. Eis o fundamento de toda a nossa Fé, de toda a nossa vida, de tudo o que se faz na Igreja. Sempre que a Fé diminui é todo o Cristianismo que diminui. Sempre que a Fé aumenta é todo o Cristianismo que se revigora. A Fé é o único meio que temos de conhecer a Deus tal como Ele é. Pela Fé nós não vemos a Deus, mas nós cremos tudo o que Ele é.

Entre a Fé e a visão beatífica a única diferença é que no Céu nós veremos a Deus e aqui na terra nós cremos n’Ele. Fora essa diferença, todo o resto é igual. É o Deus uno e trino. É o Pai, o Filho, o Espírito Santo no qual nós cremos e com o qual nós estamos unidos pelas virtudes teologais.

As virtudes teologais são aquelas que nos unem diretamente a Deus. Fé, Esperança e Caridade. A Fé é a primeira porque sem ela nós não podemos ter as outras. A Fé não é a maior, mas ela é o fundamento. Ela é o meio sem o qual nós não podemos conhecer a Deus sobrenaturalmente. A Fé está acima de toda visão, de toda aparição. As visões são objeto de nossos sentidos enquanto que a Fé reside em nossa inteligência. Os sentidos não podem atingir Deus, a Fé pode. Logo, a Fé é superior às visões.

Certa vez disseram a São Luís que numa Igreja Nosso Senhor estava aparecendo na hóstia consagrada. São Luís se recusou a ver porque, dizia ele, a Fé já lhe mostrava que Nosso Senhor está na hóstia consagrada. Ele não precisava nem queria outra luz. Querer outra luz é querer uma luz inferior à Fé. É diminuir em vez de crescer.

Santa Teresinha dizia “só temos essa vida para viver de Fé”. Cada ato de Fé que fazemos é um ato meritório, é um ato que consola o Coração de Nosso Senhor e nos une mais intimamente a Ele. Quando entramos na capela, quando assistimos à missa, quando rezamos, quando praticamos a caridade vendo Nosso Senhor no próximo, em todos esses atos, nós fazemos um ato de Fé.

No entanto, se eu entro distraído, se eu assisto à missa pensando no que farei depois, se eu rezo maquinalmente, se eu não vejo Nosso Senhor no próximo, então eu não faço nenhum ato de Fé, e como diz Santa Teresinha: “Nós só temos esta vida para viver de Fé”.

A Fé foi a luz de Dom Lefebvre, foi a luz de Dom Antônio, foi a luz de São Pio X. Foi por causa da Fé que os mártires enfrentaram a morte. Eles tinham os olhos fixos em Nosso Senhor, na Santíssima Trindade, na Virgem Maria, no Céu. E assim superaram a aversão da natureza diante da morte.

Foi a Fé que sustentou a coragem dos fundadores de ordens religiosas, que lhes deu a certeza de que, servindo a Nosso Senhor, eles não se enganavam.

Foi pela Fé que São Domingo obteve a conversão dos hereges albigenses e São Francisco de Salles a dos protestantes. Foi pela sua Fé que São Pio V obteve a vitória de Lepanto sobre os muçulmanos.

A Fé é uma luz sobrenatural que nos faz dar o assentimento de nossa inteligência a tudo o que Deus nos revelou. Pela Fé é todo o Céu, todos os anjos, todos os santos, e Deus Ele mesmo que se torna presente em nossa alma. A Fé é, pois, a causa de uma alegria que ultrapassa todas as alegrias da Terra, já que pela Fé a alma contempla a Deus e contemplando-O se alegra de vê-Lo, infinitamente grande, infinitamente santo, infinitamente sábio e bom.

Pela Fé nós somos transportados da Terra ao Céu a tal ponto que muitos santos se perdiam na missa e não sabiam mais onde estavam. São Felipe Neri levava cerca de 4 horas para rezar a missa, São João da Cruz certo dia deixou o altar com o cálice na mão e o Cura d’Ars chorava ao rezar a missa. Tudo isso é obra da Fé que se maravilha do que Deus nos revela sobre Si mesmo, sobre a missa, sobre a comunhão dos santos, sobre a Igreja, o dogma, a Providência.

Peçamos a Deus que nos dê uma grande Fé. Neste mundo descrente, neste ambiente tão contaminado pelo modernismo, um homem de Fé é um milagre de Deus, é como a aparição de um apóstolo no meio de nós, de um desses primeiros cristãos que viesse nos visitar.

Foi assim que Dom Lefebvre e dom Antônio apareceram diante do mundo. Alguns disseram que eles eram dinossauros pré-históricos. Falaram assim porque não tinham a Fé e não podiam compreender a força, a certeza, a paz que a Fé dava a esses santos bispos. A Fé é a certeza de Deus comunicada aos homens. Pela Fé o homem vê o que é invisível aos olhos da carne e mesmo aos olhos da inteligência.

Peçamos, pois, nessa missa, que Deus aumente nossa Fé. Se Deus aumentar nossa Fé, nossa Esperança e nossa Caridade serão aumentadas. Eis aí tudo o que queremos. Todo o resto não é nada ao lado desses dons de Deus que nos fazem começar desde já a vida eterna.

Crescer na Fé é rezar com mais fervor, é ver Nosso Senhor na santa comunhão, é crer que somos lavados no Seu Sangue quando confessamos, é estar na companhia dos anjos para desde já louvar, amar e servir a Deus esperando o dia de contemplá-Lo na visão beatífica. Que a Virgem Maria, que é aquela que teve a Fé por excelência, nos obtenha essa graça. Assim seja.

Dom Tomás de Aquino O.S.B.

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