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Sermões: 8º Domingo depois de Pentecostes (2015)

Sermão proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.

PAX VIII Domingo depois de Pentecostes 2015

No Evangelho de hoje, Nosso Senhor nos diz que os filhos deste século são mais espertos do que os filhos da luz.

Que vergonha para os católicos ouvir esta verdade. Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que é a Verdade mesma, nos adverte que os maus são mais hábeis nos seus negócios do que os bons. Nosso Senhor nos indica o que sucede mais frequentemente, embora haja, felizmente, honrosas exceções.

Assim, São Pio X foi mais hábil do que os maçons franceses, que confessaram que o Papa os tinha surpreendido quando eles haviam ameaçado o clero francês de tomar os bens da Igreja se os bispos e os padres não se conformassem, como uma medida exigida pelo governo francês.

São Pio X disse ao clero francês: “Percam todos os bens, mas não cedam um milímetro que seja quanto aos princípios que regem a vida da Igreja”. Reproduzo aqui o sentido geral da resposta de São Pio X e não as palavras textuais. Ora, o governo não esperava esta atitude de São Pio X e ficou numa situação bem complicada diante das eleições seguintes, já que a sua injustiça ficava patente, enquanto a firmeza de São  Pio X atraia a admiração do mundo inteiro.

Mas perguntemo-nos quais são as armas dos inimigos da Igreja e quais são as nossas. Quem souber manejar melhor as suas próprias armas será o mais hábil em seus negócios.

O mundo vive sob o domínio de três paixões: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho da vida.

A concupiscência da carne é a gula e a impureza.

A concupiscência dos olhos é a avareza.

A concupiscência do orgulho da vida é, como a palavra indica, o orgulho.

Eis as armas dos maus. Eis o que o demônio destila nas almas terrestres que trocam o Céu pela Terra, dando as costas a Deus para se entregarem ao mundo. E as nossas armas? Quais são elas? Elas são três também. São os três conselhos evangélicos que encontram sua perfeição na vida religiosa. São os três votos: pobreza, castidade e obediência.

A castidade se opõe à concupiscência da carne. A pobreza se opõe à concupiscência dos olhos. A obediência se opõe ao orgulho da vida.

Estes três votos são, na verdade, três virtudes que todos devem praticar. Todos devem ter o espírito dos conselhos evangélicos, assim chamados porque é Nosso Senhor Jesus Cristo que no-los deu nos Santos Evangelhos. Ora, os maus frequentemente têm mais empenho na procura do objeto de suas paixões do que os bons na procura dos bens que estes conselhos evangélicos nos obtém.

Acabo de chegar da França, onde estive com o Pe. Joaquim e Deivid. O que fomos fazer lá? Fomos escutar e falar sobre este grande combate que opõe os filhos deste século aos filhos da luz. Tomemos alguns exemplos desta luta terrível que data do início do mundo.

Abel, o justo Abel, ofereceu sacrifícios agradáveis a Deus. Caim não fez o mesmo e por orgulho e inveja matou o irmão. Quem foi mais hábil nos seus negócios? Caim ou Abel? O mais hábil foi Abel, que foi o primeiro de todos os santos e cujo nome está no canon da missa. Caim foi hábil porque conseguiu o que queria, mas Abel foi mais hábil porque obteve o que Deus queria dele.

Penso que Nosso Senhor, quando diz que os filhos deste século são mais hábeis do que os filhos da luz, está falando de outra coisa. De quê? Penso que Ele está falando dos maus católicos, ou melhor, dos católicos que não são inteiramente católicos. Por exemplo, no Concílio Vaticano II, muitos bispos que não eram progressistas acabaram fazendo o que os progressistas queriam. Eles não foram hábeis nos negócios de fé. Eles não foram hábeis como Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer.

Outro exemplo: São Pedro quando negou a Nosso Senhor. Ele não foi hábil. Ele fraquejou. Ele deixou o demônio ganhar dele por causa da falta de humildade que teve ao dizer: “Mesmo se todos vos abandonarem, eu não vos abandonarei”. São Pedro teria sido mais hábil se tivesse dito: “Senhor, posso vos abandonar porque sou fraco e ferido pelo pecado original. Ajudai-me a não renegar vosso nome e a sofrer o martírio se necessário”. Nosso Senhor o teria atendido.

Assim, os católicos devem ficar espertos, e ser esperto consiste em rezar, em ser humilde e também em conhecer o inimigo, pois num combate é preciso conhecer o inimigo, suas armas, suas táticas e seus planos.

Foi por isso que Pio IX mandou que se publicassem os documentos da Maçonaria encontrados pela polícia dos Estados Pontifícios no século XIX. É preciso ler. É preciso escutar os avisos de Pio IX e de tantos papas que nos avisam sem cessar que os inimigos estão a nossa volta e procuram nos devorar.

Na França, o Pe. Joaquim falou dos acontecimentos de 1964 aqui no Brasil. Os comunistas estavam já tomando o nosso país, mas o povo brasileiro foi esperto e rezou. Em muitas casas se via uma vela acesa e a família rezando o terço. O brasileiro foi esperto. Ele recorreu a Nossa Senhora e a ela salvou o Brasil do comunismo. O rosário nos salvou. Esperto é aquele que reza o rosário e que escuta os ensinamentos da Igreja.

Mas veio o Concílio Vaticano II, que terminou em 1965, um ano depois do golpe militar no Brasil. O Vaticano II é o inimigo da Igreja dentro da Igreja. Os teólogos condenados por Pio XII dominaram o Vaticano II. Novamente, nos encontramos numa situação difícil. Mas um bispo brasileiro foi esperto. Ele rezou, ele fundou um seminário, ele instruiu o seu povo e o seu clero, e os erros do Vaticano II não entraram na sua diocese. Este bispo foi Dom Antônio de Castro Mayer. Mas seus filhos não foram hábeis nos seus negócios e os modernistas foram mais hábeis que os católicos de Campos. E Campos caiu nas mãos dos modernistas.

Falando destes combates incessantes entre os bons e os maus, entre os católicos e os hereges, ou entre católicos e não-católicos, combates que frequentemente se transformam em perseguição, como a dos imperadores romanos, Santo Agostinho escreveu: “A primeira perseguição foi violenta para forçar os cristãos a sacrificar aos ídolos. Os imperadores os atormentavam e os matavam. A segunda perseguição é insidiosa e hipócrita, ela existe hoje: os hereges e os falsos irmãos são seus autores. Virá mais tarde uma outra, mais perigosa do que as precedentes, pois ela unirá a sedução à violência. Ela será a perseguição do Anticristo”. Os católicos têm que ser espertos, pois os seus inimigos, no dizer de Santo Agostinho, são hábeis, insidiosos e hipócritas. Eles são os hereges e os falsos irmãos.

Lá na França, os dominicanos procuram afinar a sua capacidade de tirar a máscara destes homens que, usando de perfídia e de hipocrisia, querem acabar com a Igreja para conduzir todos os homens ao reino de Satanás. Nos dias destas conferências, houve missa para todos, terço para todos, com uma pequena meditação e à noite o ofício de Completas.

Cento e quarenta homens que queriam aprofundar sua fé, que queriam escutar Dom Williamson explicar a encíclica Pascendi de São Pio X e quiseram ouvir Dom Faure lhes falar de Monsenhor Lefebvre e da situação atual da Fraternidade. Dois rapazes também falaram. Um devia ter cerca de 14 ou 15 anos; outro, cerca de 16 ou 17. Eles fazem, sob a direção dos dominicanos, reuniões de estudo para conhecer o que os papas ensinaram sobre como devemos combater para o triunfo de Cristo Rei. Estes moços prometem, pois estão trabalhando com inteligência. Deles, Nosso Senhor diria talvez: “Os filhos da luz são, às vezes, mais hábeis nos seus negócios do que os filhos das trevas”.

Procuremos, pois, tirar lições para nós deste Evangelho e deste exemplo. Hoje, o Diego foi batizado. Ele foi mais esperto que Lutero. Lutero era católico e virou herege, luterano, fora da Igreja. Diego era luterano, de fora da Igreja e hoje ele é católico porque foi humilde, porque não procurou os bens deste mundo, mas os bens celestes.

Rezemos uns pelos outros. Lembremo-nos de Dom Vital, perseguido, preso e talvez assassinado. Ele foi esperto, foi hábil, foi prudente e ganhou dos maçons, ganhou o céu e converteu muitos deles. Que nós possamos seguir seu exemplos para a maior glória de Deus e nossa salvação. Que Nossa Senhora do Bom Conselho nos obtenha esta graça. Assim seja.

Dom Tomás de Aquino O.S.B.

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