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Sermões: Sagrado Coração de Jesus (2015)

Sermão proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.

PAX Sagrado Coração de Jesus 2015

Que festa poderia ser mais adequada aos votos monásticos do que esta? Nosso Senhor não disse “Eu vim trazer o fogo à Terra e qual não é o meu desejo, senão o de vê-lo se acender”? E o que é a vida monástica, senão este fogo que arde em silêncio diante de Deus para cumprir o primeiro e maior de todos os mandamentos: “Adorarás a um só Deus e a Ele amarás de todo o seu coração”? E qual é a vida do monge, senão o exercício contínuo desta adoração pela recitação do ofício divino, do qual nos diz São Bento que não devemos preterir a nada, pois esta obra está acima de todas as outras?

Muitos poderão pensar que há aí um engano, um desperdício, um desvio das forças vivas da juventude atual. Engano profundo. Há, de fato, várias vocações na Igreja. “Há várias moradas na casa de meu Pai”, disse Nosso Senhor. Mas de qual delas disse Ele: “Maria escolheu a melhor parte, a qual não lhe será retirada”? “Mas isto é para as mulheres, pois Santa Maria Madalena era uma mulher”, dirão alguns. Engano. Dos 33 anos que Nosso Senhor passou sobre a Terra, 30 foram consagrados à vida contemplativa. São José, modelo dos monges, consagrou a ela toda sua vida de silêncio e de contemplação na companhia de Jesus e Maria.

Mas que vida é essa? Que se faz nessa imobilidade monástica, que surpreende os que a consideram, sobretudo nos dias de hoje, em que, mais do que nunca, precisa-se de apóstolos que percorram as cidades de nosso país? Esta vida é a vida de união da voz do Esposo e da Esposa que faz subir aos Céus a adoração, as súplicas, e o sacrifício entre todos agradável a Deus, o Santo Sacrifício do altar.

A vida do monge, o centro de sua vida, é o coro, é a Igreja, é o altar. É dali que ele derrama sobre seus irmãos os benefícios de seu apostolado silencioso. Tudo no mosteiro é voltado para o ofício divino. O trabalho da cozinha, o trabalho da lavoura, as compras, a hospedaria, as aulas, tudo converge para este centro que é o ofício divino. E o centro do ofício divino é Nosso Senhor, cujo próprio centro é seu Sagrado Coração, que se imola sobre nossos altares, Ele que é o centro de todos os corações, como cantamos nas ladainhas.

Isto pode parecer enfadonho, cansativo, sem valor, sem consistência, “pois que fazem estes monges aí no coro?”, insistirão ainda alguns. Pensar assim é dar mostra de uma grande ignorância e de uma grande falta de fé. É no ofício divino, é na oração litúrgica da Igreja, é no coro, ao pé do altar, que o monge é o mais agradável a Deus, o mais útil a seus irmãos e o mais terrível ao demônio.

O demônio odeia e teme o ofício divino. Ele fará tudo para fazer cessar o louvor que sobe do coro aos Céus. A sede de atividades externas está sempre ameaçando o monge que se esquece que a padroeira das missões foi uma carmelita que nunca saiu de seu Carmelo.

O claustro do mosteiro, diz São Bento, é a oficina onde o monge põe em prática os instrumentos das boas obras. Ele sairá também de sua clausura quando a obediência lhe impor esta saída, mas ele aí voltará como a agulha de uma bússola volta-se para o norte quando dele ela é afastada.

Toda a vida de Nosso Senhor não foi outra, senão a procura desta intimidade com seu Pai. “Mas e a caridade fraterna?”, poderão perguntar alguns. “Que lugar tem ela na vida monástica?”. Ela tem um lugar eminente. Rezar pelas almas como Moisés rezava no alto da montanha, ensinar as almas a rezar dano-lhes o exemplo, ensinar as almas fazendo-as participar do ofício divino: eis o grande apostolado dos monges. Dom Chautard escreveu um belo livro intitulado “A alma de todo Apostolado”. Dom Chautard era trapista, uma das ordens monásticas mais fechadas, mais penitentes, mais contemplativas.

Ah, caríssimos irmãos! A contemplação não é compreendida! Ela não é compreendida por nenhum de nós. É por isso que devemos pedir Sagrado Coração de Jesus para no-la revelar.

Somos servidores inúteis, como diz o Evangelho. Somos herdeiros dos santos e não sabemos apreciar a herança recebida. Somos como homens que possuem um tesouro em sua casa, um tesouro de preço infinito e que vão mendigar esmolas na rua, como se não tivessem nada em casa.

Que Deus abra nossos olhos, para que possamos dar-Lhe graças pela vocação à qual fomos chamados.

É verdade que nosso fundador nos pediu para pregar missões. Cartuxos no interior, apóstolos no exterior. Eis nossa divisa. Mas o motor, a fonte viva do apostolado será sempre o ofício divino e a oração contemplativa no silêncio do claustro.

Toda a grandeza da Igreja vem desta mesma origem: a contemplação, o contato real com Deus, fonte de todo bem, de toda luz que acende em nossos corações o fogo do amor divino. Creiamos em nossa vocação. Creiamos na virtude, na força, na fecundidade da oração e do ofício divino.

“Quando nós cantamos os salmos na presença de Deus com uma alma atenta, então nós somos inspirados pelo Espírito Santo que nos comunica os dons de Sabedoria e de Inteligência”. Psallite sapienter, nos diz São Bento: Salmodiai com sabedoria.

Ora, a Sabedoria é o Verbo, é Nosso Senhor, a Sabedoria Incarnada. “Por conseguinte”, escreve Dom  Romain Banquet, “a salmodia é a obra mais elevada de todas, aquela a qual nos devemos realizar com mais sabedoria”. “E esta sabedoria”, continua Dom Romain, “consiste no que diz Nosso Pai São Bento, ou seja, que nossa mente concorde com nossa voz”.

Nossa inteligência deve, pois, se aplicar ao texto sagrado. Nosso amor por Deus deve se traduzir em amor pelo texto sagrado, pois um amigo sempre leva a sério as palavras de seu amigo, quanto mais às de Deus, que fez de nós seus amigos. O texto sagrado é a palavra de Deus a seus discípulos prediletos. Nossa piedade deve se nutrir dos salmos.

Caríssimo Ir. Pio, tudo isso será a vida à qual o senhor deseja se unir pelos votos. O senhor quer voluntariamente se obrigar a esta vida de obediência, pobreza e caridade para viver sob a Regra de São Bento e segundo nossas Constituições. Que o Sagrado Coração de Jesus lhe dê a graça para que o senhor progrida dia após dia nesta via que é estreita mas que vai se alargando à medida que a alma progride na fé e na caridade e se aproxima do feliz termo da vida monástica, que não é outra coisa, senão que o termo de toda vida realmente católica, ou seja, a vida eterna. Esta vida desejo ao senhor e a todos aqueles pelos quais o senhor e nós rezamos em união com toda a Santa Igreja. Assim seja.

Dom Tomás de Aquino O.S.B.

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