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Um Bispo Fala: Dom Marcel Lefebvre

A pretensa reforma litúrgica não se trata de uma reforma semelhante à de São Pio X; trata-se, evidentemente, de uma nova concepção da Missa. Os reformadores nunca negaram esta realidade. A Missa normativa do Pe. Bugnini, tal como ele a explicou, nas suas conferências em Roma, é bem aquela que está definida no artigo 7° da Introdução ao Novus Ordo Missæ.

Tudo que foi prescrito como novidade decorre claramente desta nova concepção – mais próxima da concepção protestante do que da concepção católica. As afirmações dos protestantes que contribuíram para essa reforma ilustram cândida e tristemente essa verdade: “os protestantes não veem mais o que poderia impedi-los de celebrar o Novus Ordo.”

Pode-se então se perguntar muito legitimamente se, insensivelmente, desaparecendo as verdades essenciais da fé católica, a validade das Missas não desapareceria também. A intenção do celebrante dirigir-se-á para a nova concepção da Missa que, em pouco tempo, não será outra senão a concepção protestante. A Missa não será mais válida.

A causa próxima: O Concílio

Parece-me que é impossível explicar a situação na qual nós nos encontramos sem remontar ao Concílio (…).

Eu insistiria sobre o fato de que o Concílio nunca quis dar definições exatas dos assuntos a respeito dos quais se discutia; e esta recusa de dar definições, esta recusa de examinar filosófica e teologicamente os assuntos que eram tratados fez com que nós pudéssemos apenas, mas não defini-los. E não somente não se definiu, mas muito frequentemente, nas discussões que eram feitas, falsificou-se a definição tradicional. E é por isso, eu penso, que nós nos encontramos agora diante de todo um sistema que não conseguimos compreender e ao qual dificilmente chegamos a nos opor. Porque não se aceitam mais as definições tradicionais, as verdadeiras definições.

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A ausência de definição. Nós havíamos pedido várias vezes a definição de colegialidade; eles jamais foram capazes de defini-la. Nós pedimos várias vezes para definir o ecumenismo, e eles nos diziam pela boca dos secretários das comissões dos relatores: “Mas, nós não fazemos um Concílio dogmático, nós não fazemos definições filosóficas. É um Concílio pastoral que se dirige ao mundo inteiro; por conseguinte, é inútil dar-lhe aqui definições que não seriam compreendidas.” Mas, enfim, é insensato que nós possamos nos reunir e que não possamos definir os termos sobre os quais nós discutimos.

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Isto continua atualmente: continua-se a não definir as coisas. Eu fui ver um cardeal, no ano passado, no mês de maio, e expliquei-lhe o que eu fazia. Eu lhe descrevi o seminário, sua espiritualidade orientada sobretudo para o aprofundamento da teologia do sacrifício da Missa e para a oração litúrgica. Ele me disse: “Mas, Excelência, é exatamente o oposto do que os jovens padres desejam atualmente. Não se define mais o Padre senão em relação à evangelização e não mais em relação à santificação, e nem ao Santo Sacrifício da Missa.”

Eu lhe disse: “Eminência, que evangelização? Se ela não tem relação fundamental e essencial com o Santo Sacrifício da Missa, como o senhor compreende essa evangelização? Então… Evangelização política? Social? Humanitária? Quais assuntos de evangelização?”.

Sim, mas é desta maneira agora; é a evangelização que predomina, não é mais a santificação. Então, má definição do padre, e uma vez que não se dá a verdadeira definição, se tem todas as consequências.

É a mesma coisa com todos os sacramentos. Tomai-os uns após os outros. Eles não são mais definidos como eram outrora.

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Eu creio sinceramente que é o Concílio que está na origem de tudo isto porque boa parte dos bispos, sobretudo aqueles que foram escolhidos como membros das comissões, eram homens que haviam feito uma filosofia existencialista, que não tinham feito uma filosofia tomista, e que por conseguinte não sabem o que é uma definição. Para eles não há essência, não se define mais nada; se exprime e se descreve uma coisa, mas não se define mais nada.

Aliás, esta falta de filosofia se fez sentir em todo o Concílio e, assim, eu creio que se chegou a ter um Concílio cheio de equívocos, de ideias vagas, de sentimento, de coisas que agora permitem evidentemente todas as interpretações, e que deixaram todas as portas abertas.

Tradução: Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa

Correção de concordância, ortografia e gramática: Suelen Elisandra dos Santos Carvalho

Redação: Hamilton Carvalho Neto

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