top of page

XV – A Sagrada Comunhão - Instituição



O santo rei Davi, que também era Profeta, louvava certo dia a Deus pelos múltiplos benefícios que fazia aos homens, e exclamava: “Grande são as obras do Senhor” (Sl 110, 2). Pensando depois nos benefícios que Deus ainda teria feito há séculos, deteve-se a considerar um desses benefícios, que lhe parecia extraordinário e tal que fazia pasmar todo o mundo, e disse:


- O Senhor, que é benigno e misericordioso, deixou lembrança de suas maravilhas.


***


Que pretendia dizer Davi, profetizando? Queria dizer: O Senhor fez aos homens uma dádiva que encerra todas as maravilhas divinas. E que dádiva extraordinária era essa, prova do amor infinito de Deus, acrescenta-o logo: “Ele deu um alimento àqueles que o temem, isto é, aos fiéis.


Como vedes, o santo profeta anunciava a instituição da Eucaristia, pela qual não só Jesus estaria conosco no santo Tabernáculo, como ainda se daria a nós como alimento de nossas almas. Eis a Sagrada Comunhão. Esta é realmente a maravilha das maravilhas, na qual jamais ninguém teria pensado. Consideremos um momento, e veremos: Que é a Sagrada Comunhão.


Que a Sagrada Comunhão.


1 – A Figura


Já sabeis de que modo foi instituída por Jesus Cristo a Sagrada Comunhão, mas é bom recordá-lo. Ela foi anunciada e prometida muito tempo antes.


O maná do deserto – Quando o antigo povo hebreu, saído da escravidão do Egito, atravessava o deserto para ir à terra prometida, Deus fazia chover do céu o maná, que era um alimento maravilhoso, com o qual o povo se nutria. Esse alimento prodigioso figurava a alimentação espiritual que o Senhor depois daria aos cristãos na Sagrada Eucaristia.


2 – A Promessa


Veio, afinal, Jesus Cristo para redimir o mundo, e fez da Eucaristia a promessa formal. Quando ele doutrinava as turbas, fez um discurso em que disse:


- Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Esse pão é aquele descido do Céu, a fim de que não morra quem comer dele. Eu sou o pão vivo que desci do Céu: quem de tal pão comer, viverá eternamente.


Ao ouvir estas palavras, alguns discípulos se escandalizaram e custaram a crer, porque pensavam ter de despedaçar Jesus para comê-lo; e não conseguiam compreender que Jesus ter-se-ia dado como alimento sob a espécie do pão e do vinho, de modo que não causaria nenhum horror. Por isso o abandonaram. Mas Jesus, em vez de os desenganar, confirmou o que dissera com estas palavras: “Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes da carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis em vós a vida”. “Minha carne é realmente alimento e meu sangue é realmente bebida”.


Neste discurso, como é fácil compreender, Jesus fez a promessa clara e precisa do grande Sacramento da Eucaristia, que iria instituir.


3 – A Instituição


Passados cerca de 18 meses após esse discurso, Jesus se achava com os apóstolos no cenáculo, poucas horas antes da sua Paixão e Morte. Num gesto de profunda humildade, Ele, então, lavou os pés de cada um dos Apóstolos, como a prepará-los para o grande ato da Comunhão. Depois, quando ceavam, Jesus apanhou o pão, abençoou-o, cortou-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: “Tomai e comei, este é o meu corpo” (Mt 26, 26). Como também apanhou o Cálice, e, erguidos os olhos ao Céu, o abençoou e o deu aos mesmos discípulos, dizendo: “Bebei disto todos vós, que este é o meu sangue do novo testamento” (Mt 26, 27-28). Eis de que modo Jesus Cristo instituiu a Sagrada Eucaristia que deve ser o alimento de nossas almas. Trata-se de seu verdadeiro corpo dado a nós como alimento, e de seu verdadeiro sangue a nós dado como bebida.


4 – Que quer dizer, então, comungar?


Quer dizer receber o corpo, sangue, a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo realmente presente na Sagrada Comunhão. Quando comungamos, que acontece? Ocorre entre Deus e nós a mais íntima união que se possa imaginar. S. Cirilo de Jerusalém a explica com esta comparação:


“Se se derreterem juntos dois pedaços de cera, de ambos de faz uma coisa só; assim também, participando nós do corpo de Jesus Cristo e de seu sangue precioso, Jesus está nós, e nós estamos em Jesus: nossa alma torna-se com Jesus Cristo uma mesma alma; nosso corpo torna-se com Jesus Cristo um mesmo corpo”.


Essa união de nossa alma com Deus pode-se comparar a que ocorre entre nós e o alimento que tomamos; o qual sem que o percebamos, se transforma em carne nossa e em sangue nosso, com esta diferença: que na Sagrada Comunhão não somos nós que transformamos Jesus Cristo em nosso ser, mas é o próprio Jesus Cristo que nos transforma nele, de sorte que, após a Comunhão, podemos dizer com o Apóstolo São Paulo: “Parece que ainda sou eu que vivo; mas não, é Jesus Cristo que vive em mim: Vivo autem, jam non ego; vivit vero in me Christus” (Gál 2, 20).


5 – O amor de Jesus a nós


Vedes que amor e que bondade nos demonstrou Jesus Cristo ao instituir esse augustíssimo Sacramento?! Não bastou ao seu amor o ter-nos criado à sua imagem e semelhança; não bastou o se ter feito nosso irmão, ao assumir a humana carne no seio puríssimo da Virgem Maria; não bastou o haverdes redimido, dando o sangue e a vida por nós numa cruz: quis ainda com o Sacramento da Eucaristia fazer-se alimento nosso e bebida nossa; dar-se inteiramente a nós, miseráveis criaturas, para elevar-nos até à divindade! Podíamos nós desejar mais? Afinal, quem algum dia chegaria a imaginar isso?


Houve santos que puderam apertar contra o peito o Menino Jesus a eles aparecido milagrosamente. Tiveram essa graça Santa Teresa, S. Caetano de Thiene, S. Antônio de Pádua, S. Francisco de Assis e outros santos. E nós os invejamos, não é verdade?


Mas é para os invejarmos? Não temos nós uma sorte maior? A fé nos diz que, ao recebermos a Sagrada Comunhão, recebemos justamente dentro de nós o corpo vivo de Jesus Cristo como agora é no Céu, e o seu sangue, e a sua alma, e a sua divindade. E tal amor, e tal bondade de Jesus Cristo para conosco aparecer-nos-á maior e mais manifesta, se considerarmos os efeitos que produz em nós a Sagrada Eucaristia.



(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos, ilustrações ou qualquer outro conteúdo deste site por qualquer meio sem a prévia autorização de seu autor/criador ou do administrador, conforme LEI Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

bottom of page