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A MORTE – Certeza


IV – A MORTE

Certeza

A história do primeiro pecado – Sabeis a história do primeiro pecado cometido na terra? Os nossos progenitores Adão e Eva desobedeceram a Deus no Paraíso terrestre; e então se fez ouvir a voz ameaçadora de Deus que disse a Adão:

_ Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, da qual foste tirado (Gên 3,19).

Eis o castigo do pecado: voltar à terra, isto é, morrer.

“A morte é a paga do pecado”, diz S. Paulo (Rom 6,23).

A sentença de Deus é para todos os descendentes de Adão: todos devem morrer. Pensais nisso?

“Mas como? Pensar na morte nós que estamos no início da vida?”, assim dizem certos jovens. E assim correm para a morte irrefletidamente, e a ela chegam mais depressa do que creem: e, o que é pior, sem terem feito nada de bom e com a alma cheia de pecados. Ouvi o que diz o Espírito Santo: “Em todas as tuas obras lembra-te dos teus Novíssimos, e nunca mais pecarás (Eclo 7,40).

Lembremos, pois, agora estas três grandes verdades:

1 – A morte é certa para todos, e é um ladrão que nos despoja de tudo.

2 – Não sabemos quando, nem onde, nem como nos virá procurar esse ladrão.

3 – É preciso estar sempre preparado para morrer.

1 – Certeza

1.1 – Todos morrem

“Qual o homem que tenha vida, sem jamais ver a morte?” (Sl 88,47).

Está estabelecido que os homens morram uma vez: Statutum est hominibus semel mori (Hebr 9,27). Não há ninguém no mundo que se haja posto na mente que não deverá morrer nunca, exceto um louco. É uma verdade que todos veem.

A dança macabra – Na cidade de Lubeck (Alemanha), numa igreja denominada a Capela dos mortos, está pintada uma dança macabra que se usava representar na Idade Média. É um grande cortejo de dançarinos, composto de Papas, Cardeais, Bispos, Imperadores, Reis, homens e mulheres de toda idade e condição; há ali ricos com vestes pomposas, e pobre hábitos rasgados, jovens coroados de flores, e velhos decadentes. No meio deles está a morte que com terrível olhar os dirige a todos, e os arrasta para um abismo. Isto significa que a morte exerce o seu domínio sobre todos sem distinção, e os leva para o abismo da eternidade.

Dizei-me, queridas crianças, onde estão os grandes que fizeram tanto rumor no mundo? Onde todos os filósofos, sábios, imperadores, reis, tiranos, conquistadores que fizeram falar de si? Fizeram um breve aparecimento, e pereceu com o rumor a sua memória: Periit memoris eorum cum sonitu (Sl 9,7).

1.2 – Tudo nos adverte que a morte vem

Olhai as árvores: as folhas verdes secam e caem. Olhai as flores: a princípio tão bonitas, e depois murcham e apodrecem. Dizem-vos que a morte vem. Olhai o sol: surge à manhã e à noite se põe; olhai o rio que corre para o mar; a lenha que pelo fogo é reduzida a cinzas; a fumaça que sobe e se dispersa…

Tudo vos diz que a vida foge e que a morte vem e está perto. Jó exclamava: “Não acabarão depressa os meus poucos dias? (Jó 10,20). “Os dias do homem são breves (Ib. 14,5); e vão em grande carreira, como um corredor. E S. Tiago diz: “Que é a nossa vida? É como um vapor que aparece por pouco tempo, e depois se desvanece (Tg 4,15). Portanto, a lei é clara.

1.3 – Poucos pensam na morte

Mas quantos pensam nela?… E não pensar nisso é de louco.

Um bobo que converte seu soberano – Nos séculos passados os príncipes tinham junto a si bobos, ou truões, que com suas brincadeiras mantinham alegre o pessoal do corte, mas que amiúde dizem verdades contundentes. Um desses príncipes, satisfeito com o seu bobo, um dia lhe disse:

_ Se topares alguém mais louco do que tu, faze-me conhecê-lo.

_ Está bem, retruca o truão.

Pouco depois o príncipe adoeceu gravemente, e não pensava em receber os Sacramentos. Aí se apresentou a ele o bobo e disse-lhe:

_ Majestade, deveis fazer uma grande viagem, não é verdade?

_ Talvez sim.

_ Mas fizestes para essa viagem as provisões?

_ A bem dizer, nem pensei nisso!

_ Então (conclui o bobo), achei o mais louco do que eu; ei-lo aqui: sois vós.

Depois aduziu:

_ Não é de louco saber que se deve morrer, e jamais pensar nisso? Não o diz, porventura, o Senhor?: “Lembra-te que a morte não tarda a vir” (Eclo 14,12). A ninguém olha ela o rosto, e leva a sua foice até sobre os príncipes. E agora esperais pensar nisto? Preparai-vos para a viagem, enquanto é tempo!

O príncipe chamou logo um sacerdote e se dispôs a morrer bem.

***

Como esse príncipe, quantos vivem esquecidos da morte! E ela está perto até de vós, ó crianças. Os velhos já a ouvem bater à porta; mas os jovens a tem às costas: ela vem a eles nas pontas dos pés e pega-os à traição.

1.4 – O ladrão que despoja

A morte é também um ladrão que nos despoja e nos tira tudo.

Diante de um cadáver (S. Francisco de Bórgia)  – Francisco de Bórgia (+ 1524) era duque de Gandia e uma das maiores personagens da Espanha. Quando morreu a imperatriz Isabel e o seu cadáver foi levado à Granada para o reconhecimento, Francisco estava presente à abertura do caixão que encerrava o cadáver. Que viu então? Um montão de podridão que exalava um fedor horrível. A essa vista ficaram horrorizados todos os presentes e fugiram. Mas o duque se deteve e disse:

_ Onde está a soberana ante todos se curvavam? Onde está a sua grandeza? O seu poder? A sua beleza? Onde as gentis maneiras e os sorrisos? Onde os seus talentos? Eis a que nos reduz esse ladrão que é a morte! Somente vós, ó Senhor, sois grande!

E nesse momento ele deu adeus ao mundo, a fim de consagrar-se inteiramente a Deus. Entrou na Companhia de Jesus e tornou-se um grande santo.

1.5 – Torna todos iguais

Diógenes e Alexandre Magno – Alexandre, o Grande (+ 323 a. C.), viu certa vez o filósofo Diógenes a remexer ossos de defuntos, observando cabeças e canelas.

_ Que fazes? – indagou o rei.

_ Procuro a cabeça do rei Filipe, teu pai, mas não consigo achá-la; se a reconheces, faze-me vê-la.

A morte iguala os poderosos aos miseráveis. Todos os homens quando morrem terão a mesma herança da podridão, de bichos e vermes (Eclo 10,13).

***

Eis o que faz a morte: após tirar tudo, haveres, poderio, beleza, inteligência…, reduz o homem a podridão, a poucos ossos, e depois a um punhado de pó!

(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino)

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