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Ninguém é comunista…

Por Gustavo Corção, publicado n’O Globo em 21-05-77.

NA SEMANA PASSADA os jornais retomaram o assunto desencadeado pelas denúncias energicamente formuladas pelo Arcebispo de Diamantina, Dom Geraldo Proença Sigaud, nos últimos dias de fevereiro p. p. A rigor não podemos dizer que Dom Sigaud revelou coisa que surpreenderam e assustaram os fiéis católicos de norte a sul do Brasil. Na verdade todos os brasileiros sabem exaustivamente o triste papel desempenhado pela Conferência dos Bispos e pelas Conferências Religiosas na infiltração comunista acelerada nos governos Juscelino Kubitschek e João Goulart, e em boa hora detida pelo movimento de Março de 64.

PARECE ENTRETANTO que o Sr. Núncio Apostólico tem rigorosas instruções para dizer que ignora tudo o que os jornais escancaradamente publicam. No caso do escândalo acintosamente provocado por D. Avelar Brandão, na loja maçônica de Salvador, Sua Exma. Revdma. (refiro-me ao Núncio Apostólico) deu uma entrevista lacônica e reticente. No caso presente o Sr. Núncio telefonou para Dom Sigaud pedindo-lhe que não continuasse as entrevistas em que denunciava o Bispo Dom Pedro Casaldaliga, que já foi denunciado por nós e pelo Sr. Plínio Correa de Oliveira no documentadíssimo livro que publicou: “A Igreja ante a escalada da ameaça comunista. Apelo aos Bispos Silenciosos”.

NÃO CONHECEMOS O INTEIRO TEOR dos telefonemas do Sr. Núncio, mas sabemos que Dom Sigaud prometeu enviar à Santa Sé farto documentário sobre o assunto, e que prometeu não voltar às entrevistas públicas até poder atender ao pedido de provas. Agora, em princípios de maio, D. Sigaud voltou ao assunto, e enviou a cada Bispo do Brasil uma carta reservada acompanhando o relatório que havia enviado ao Sr. Núncio a seu pedido.

EU DISSE ATRÁS que as denúncias de Dom Sigaud, em fevereiro, não trouxeram nenhuma revelação sensacional porque todos nós já estamos tristemente enjoados de saber que bispos, religiosos e padres da Igreja pós-conciliar, na sua maioria, pendem para as esquerdas ou tomam posições francamente favoráveis à política dos países comunistas. Desde o Concílio, a maioria dos Padres recusou-se a aceitar a fórmula de reafirmação das posições e condenações de Pio XI e Pio XII contra o comunismo. No que concerne aos religiosos, foi especialmente escandalosa a participação dos dominicanos no caso que terminou com a morte do chefe comunista Marighela. As famílias que viram seus filhos e filhas transformados em comunistas e até em terroristas nos colégios católicos e nas universidades pontifícias, até hoje choram enquanto Dom Helder aplaude os jovens assassinos ou cúmplices, e os cardeais declaram na CNBB que não há comunistas no episcopado brasileiro.

TUDO ISTO JÁ FOI DENUNCIADO por escritores leigos, mas a dimensão nova que Dom Sigaud trouxe ao deplorável consabido da opinião pública brasileira foi o fato de ser agora um Bispo, um Arcebispo, o acusador. Pela primeira vez um Bispo sentiu-se no dever, diante de Deus, de quebrar o silêncio da “unidade” de que se gabava a CNBB. Agora, Dom Sigaud prova que, se unidade existiu não foi de Fé, foi antes na conivência de um silêncio culposo, e o próprio Dom Pedro Casaldaliga, em outro tom e por motivos diversos, e até diria por motivos opostos ao de Dom Sigaud, denuncia com estridência a falsa unidade que classifica de hipócrita.

MAS A CNBB, A DESPEITO das injúrias e dos pontapés de Dom Pedro Casaldaliga obstina-se em defendê-lo, e em tapar o sol com uma peneira.

Em pronunciamento publicado, em 14 do corrente, em O GLOBO, o presidente da CNBB, que mais uma vez se enculcou como Chefe da Igreja no Brasil, faz declarações que pretendem desmentir Dom Sigaud: “Não existe bispo comunista no Brasil. Conheço bem todos eles, muitos desde quando eram padres, e posso garantir isso. Especialmente com relação a Dom Pedro Casaldaliga, que conheço há muito tempo.

“O QUE EXISTE  – continua Dom Aloísio – é que ele trabalha em uma região difícil, com muitos problemas. E as atitudes das pessoas têm que ser analisadas com base no meio em que elas atuam”.

NA VERDADE, E SEM PRETENDER diminuir o mérito da denúncia de D. Sigaud que, para mim, culminou na lapidar frase que li, se não a tresli: “não tenho satisfações a dar à CNBB”, na verdade, estou inclinado a acreditar que nenhum dos bispos do Brasil, nenhum dos religiosos, nenhum padre seja realmente comunista ortodoxo, autêntico, e realmente disposto a dar a vida pela causa, e ainda mais disposto a dar a vida de milhões de inocentes. Tenho a penosíssima impressão de que nossos bispos de esquerda (ou de regiões difíceis), não são comunistas por incapacidade, serão subcomunistas, fingem que são, para serem alguma coisa. Caíram do alto, alto demais, para poderem ter ainda alguma coisa esborrachada. Mas o fato prático, incontestável, é que sendo ou não sendo, infectam ou corrompem, prestando assim serviço à causa que hoje mais nitidamente reclama a hegemonia de revolução que reduzirá a humanidade a um amontoado de loucos e degradados por mais de um milênio.

JÁ EM TODO ESSE RUIDOSO debate espalhado em páginas inteiras dos jornais vê-se que a menor das preocupações de quase todos os bispos é a da salvação das almas com o Sangue que Nosso Senhor Jesus Cristo entregou à sua Santa Igreja para a conversão e a santificação das gentes. Na mesma entrevista publicada em O GLOBO de 14 do corrente, Dom Aloísio diz gravemente que o grande problema que hoje desafia a Igreja é o dos pobres e ricos. Ter ou não ter, eis a questão. Parece-nos ouvir este lema, em tom de escárnio, pronunciado pelo personagem que como tudo indica tomou o governo do Mundo, e da Igreja pós-conciliar de quebra.

ATÉ QUANDO, meu Deus?

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