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Sermão do II Domingo depois da Epifania 2016

Ontem, começamos 24 horas de adoração para reparar o grande crime que nos foi anunciado em toda parte e que consiste numa marcha feita em honra do demônio nas principais capitais de nosso país.

Estas marchas devem iniciar-se hoje, às 4h da tarde. Elas refletem o estado de degradação moral no qual a sociedade moderna está mergulhada. Degradação moral e intelectual. Degradação sob todos os sentidos. Perda acelerada de todo bom senso e perda desta virtude sem a qual é impossível encontrar o caminho de volta para Deus, ou seja, a fé católica.

A fé é uma virtude infusa por Deus em nossas almas pela qual nós cremos em tudo o que Ele nos revelou e nos propõe para crer por meio da Santa Igreja.

A fé nos dá acesso à riqueza infinita de Deus, enquanto a incredulidade encerra o homem nos limites da criação. Ou melhor, nem isso. Como dizia o grande escritor inglês Chesterton: “Expulsai o sobrenatural e não ficará nem o natural”. Logo, quem cultua o demônio não terá nada, nem mesmo a criação. Ele ficará encerrado nos estreitos limites do inferno.

O demônio é de todas as criaturas o mais triste, mais chato, o mais incapaz de qualquer admiração. O demônio é como uma goteira de uma bica estragada. Ele repete eternamente a mesma falha, a mesma monotonia de seu pecado, da sua falta e nunca conseguirá o que deseja. Ele é o eterno fracassado. O demônio não sabe senão dizer e repetir sua revolta.

O inferno é não somente o lugar onde o fogo devora as almas sem consumi-las, onde o fogo queimará os corpos monstruosos dos réprobos, mas é também o lugar da mais intolerável ignorância de Deus e, portanto, da mais intolerável tristeza.

O demônio é o Príncipe das Trevas. Como príncipe, ele tem o prestígio dos participantes desta marcha que contará com milhares de pessoas. Mas Príncipe das Trevas porque seu poder se funda na ignorância.

Fala-se muito da Idade Média, chamando-a de Idade das Trevas. Ora, nunca uma Idade, uma era da História, foi mais iluminada, mais admirativa, mais estudiosa e laboriosa do que a Idade Média. Devemos, é verdade, reconhecer que os séculos IV e V, logo após as perseguições romanas, foram também séculos extraordinários, no qual floresceram Santo Atanásio, São Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e tantos outros doutores da Igreja. Até mesmo o paganismo foi superior, e bem superior, nesta época. Os pagãos, mesmo nas trevas do paganismo, não pecaram como hoje.

“Se eu não tivesse vindo, disse Nosso Senhor, eles não teriam pecado. Mas agora que eu vim, eles não tem desculpa para o seu pecado”. O mundo moderno não tem desculpas para o seu pecado. O mundo moderno tem todos os meios de reconhecer Nosso Senhor. O mundo moderno tem à sua disposição: a Suma Teológica de Santo Tomás, o canto gregoriano, as catedrais e toda a arquitetura da antiguidade até os séculos XVI e XVII que eram arquiteturas cheias de vida, as obras dos grandes escritores católicos, o exemplo de uma falange inumerável de santos, as ordens religiosas cujo bem qualquer um pode constatar lendo a história da Igreja.

O mundo moderno conhece a legislação da Igreja: o matrimônio indissolúvel, o respeito pela mulher, a proteção da infância, a criação das universidades, a legislação sobre a guerra. O que a ONU não consegue fazer, a Igreja conseguiu na Idade Média e mesmo até pouco tempo atrás. O mundo moderno conhece as encíclicas de Pio IX e de São Pio X, de Pio XI. O mundo moderno sabe que Cristo Rei é rei de todo o universo. E que faz o mundo moderno diante de tudo isto?

Ele volta às costas a Deus, à Igreja e a Cristo Rei. Marcha para Satanás. As consequências virão e elas serão terríveis. As consequências já se fazem sentir. É aí que intervém Maria Santíssima, que disse a seu Filho: “Eles não têm mais vinho!”. Que vinho é este senão o Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor?

Nosso Senhor Jesus Cristo veio restaurar todas as coisas. Ele veio refazer o que o pecado original havia desfeito. E ele o refez pelo seu Sangue, pela sua Paixão e Morte na Cruz.

“Eles não têm mais vinho!”, ou seja, eles não têm mais missa. Eles não têm mais a inteligência da Paixão. Eles não sabem mais o valor da penitência, do sacrifício, da adoração.

Só há dois caminhos a seguir. Só há duas bandeiras sob a qual nós devemos militar: a de Nosso Senhor e a do demônio.

O mundo moderno opta pelo demônio; nós optamos por Nosso Senhor, o Cristo Rei. O demônio é o espírito de destruição. Quer destruir a família, destruir a vida religiosa, destruir a missa, destruir a vida intelectual, destruir as alegrias da amizade, da vida em comum, destruir as santas alegrias da vida, destruir a própria vida pelo abordo, pela eutanásia e pelo infanticídio, destruir a moral católica, destruir a nação, destruir toda a civilização. Chegar à estaca zero. Destruir tudo, até a própria liturgia da qual falamos.

O demônio odeia Deus, odeia a criação de Deus. O demônio é um espírito de negação total. Nosso Senhor Jesus Cristo é, ao contrário, um espírito de criação, pois ele é Deus e, portanto, foi ele que criou todas as coisas com o Pai e o Espírito Santo. Nosso Senhor Jesus Cristo é a restauração do que havia sido destruído.

“Ó Deus, que maravilhosamente criastes a dignidade da natureza humana e mais maravilhosamente ainda a restaurastes”, diz o Padre no ofertório da missa. Deus restaura com dons ainda maiores o que o pecado original e os pecados pessoais dos homens haviam destruído. Hoje, estas duas bandeiras, estes dois exércitos se confrontam: o demônio e Nosso Senhor Jesus Cristo.

A arma do demônio é o prazer e o orgulho; a arma de Nosso Senhor Jesus Cristo é a cruz. Tomemos a santa cruz e marchemos para o Calvário. O Calvário é o monte da redenção, é o cume da civilização, é o novo Tabor, o novo Monte Sinai, onde Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu as novas tábuas da Nova Lei, a lei da caridade.

“O amor é forte como a morte”, diz a Sagrada Escritura. “Eles não têm mais vinho”, diz Nossa Senhora a seu divino Filho. E o que faz ele? Pede para encherem de água seis talhas de pedra. Depois de a encherem, as levaram ao mestre sala, que as provou e, surpreso, viu que era vinho e do melhor que jamais ele provara.

Demos nossa água, isto é, nossas pobres obras, nossas pobres orações, mas que sejam verdadeiras, sinceras como as coisas elas mesmas são verdadeiras e sinceras. Com esta água de nossas ações, Deus Nosso Senhor fará prodígios como já fez no passado e como ele faz na Santa Missa, onde transforma o vinho em Seu Sangue.

Nossa parte são as seis talhas cheias de água. Nossa parte é esta adoração reparadora, é nosso dever de estado, humilde, limitado, imperfeito, mas feito mesmo assim. É pouco, de pouco valor como a água. Mas Deus Nosso Senhor pode se contentar com este pouco e nos dar em recompensa o vinho inebriante da vida eterna que desejo a todos, pela intercessão de Maria Santíssima.

+Dom Tomás de Aquino, O.S.B.

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