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Supplemento Nº 10

SUPLEMENTO

Nº 10

Orgulho ou Preconceito?

Por Dom Tomás de Aquino

A revista VEJA (Veja Rio do 8 de abril de 2015) publicou uma matéria sobre as controvertidas cerimônias realizadas no mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo – RJ) entre as quais a de maior importância foi a sagração episcopal de Mgr Jean-Michel Faure. Esta sagração feita por Mgr Richard Williamson foi seguida da ordenação sacerdotal do Irmão André Zelaya de León, monge de nosso mosteiro. Ambas cerimônias foram apresentadas como atos de rebelião. O artigo tem por título: “Rebelião no altar”, e se termina com a seguinte frase: “O francês Faure, cheio de orgulho, tem até apelido para o racha: La Résistance”. Orgulho mesmo ou preconceito da revista VEJA? Eis a questão.

Orgulho se pode tomar em dois sentidos: ou será o senso da dignidade de sua condição como quando um filho da Santa Igreja se declara, com justo orgulho, católico apostólico romano, ou será um vício, um pecado; pecado de rebelião contra Deus. O pecado de Lúcifer.

Talvez o autor do artigo quisesse deixar ao leitor a escolha, mas o tom geral do artigo indica de preferência o sentido pejorativo. Seja como for, a pergunta permanece: orgulho de Mgr Faure, de Mgr Williamson e dos monges de Santa Cruz ou preconceito contra eles?

Retrocedamos no tempo, para encontrar a resposta. Retrocedamos até a Reforma protestante e ao declínio do Cristianismo na Europa e no mundo. Declínio relativo, pois ele servirá para a maior glória da Santa Igreja como a Paixão de Nosso Senhor serviu e foi causa de Sua glorificação no Domingo de Páscoa e na Ascensão. Contra este declínio lutaram vitoriosamente o Concílio de Trento e os grandes santos da Contra-Reforma. Duas forças se chocaram então e se chocam até hoje. Uma nova religião que põe o homem no centro da civilização e combate não só a Igreja Católica com o protestantismo, mas também Nosso Senhor Jesus Cristo com a Maçonaria, para terminar negando a existência mesma de Deus, com o marxismo, e mesmo corrompendo a eterna noção de verdade com o Modernismo.

Dois mundos, dois amores; o amor de Deus levado até o esquecimento de si mesmo, e o amor de si mesmo levado até a negação de Deus. Duas correntes históricas que se opõem há mais de cinco séculos. Qual das duas é movida pelo orgulho? Eis uma pista para encontrarmos a resposta à nossa pergunta.

Aprofundemos pois esta pista e entremos na atualidade, ou melhor, na história recente da Igreja. Falemos de Vaticano II. Os Papas dos séculos XVIII, XIX e XX até a morte de Pio XII haviam condenado não só o Liberalismo revolucionário, mas também o Liberalismo dito Católico dos que queriam a união da Igreja com os princípios da Revolução Francesa. Não só estas duas formas de Liberalismo mas também o Modernismo, o Progressismo e demais erros da hora presente haviam sido devidamente condenados. A Igreja Católica dizia e dirá sempre “não” a estes erros.

Porém o velho sonho dos mais cruéis inimigos da Igreja realizar-se-ia. Um Concílio dominado por inimigos da Igreja consagraria os teólogos e doutrinas modernistas, liberais e progressistas. Este Concílio foi o tumultuoso Concílio Vaticano II. Dois Bispos denunciaram este Concílio. Mas só dois? Não é pouco demais? Para um mundo que preza mais a quantidade do que a Verdade, dois é igual a nada. Mas em questão de doutrina não é o número que conta, e as doutrinas apregoadas pelo Vaticano II já haviam sido condenadas por Pio VI, Pio VII, Leão XII, Pio VIII, Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII para citar apenas alguns da longa série de Papas que vai de São Pedro à Pio XII, os quais guardando o depósito da Fé se opõem necessariamente aos erros fabricados pelos homens.

Mas o que isso tem que ver com a sagração do 19 de março de 2015 em Nova Friburgo? Isto tem tudo que ver com essa sagração, já que Mgr Williamson foi ele mesmo sagrado por estes dois bispos fiéis à Tradição bimilenar da Igreja. Estes dois bispos são Mgr Marcel Lefebvre e Mgr Antônio de Castro Mayer. Na verdade os bispos que se opuseram aos erros de Vaticano II foram bem mais numerosos (cerca de 250 durante o Concílio), embora só estes dois mantiveram o combate até o fim de suas vidas.

Antes de morrerem, eles sagraram Mgr Williamson, assim como Mgr Fellay, Mgr Tissier de Mallerais e Mgr de Galarreta, contra a vontade de João Paulo II, em 30 de junho de 1988. Mas se foi contra a vontade do Papa eles são rebeldes e orgulhosos. Não. Desobedecer ao Papa pode ser, em casos extremos, um ato de virtude heróica, enquanto que obedecê-lo pode ser, em casos extremos, um pecado grave. “Quem faz o mal porque lhe ordenaram, não faz ato de obediência, mas de rebelião”, diz São Bernardo.

A rebelião no altar não se deu em Nova Friburgo, no dia 19 de março. Se aprofundarmos a questão veremos que a rebelião no altar se deu em Roma, no Concílio, e esta rebelião dura até hoje.

Quem duvidar do que afirmamos, que estude os livros que falam da crise atual e lá verão que o próprio Cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, afirma que o Vaticano II foi um “anti-Syllabus”, ou seja, que ele vai contra o ensinamento de Pio IX que condenou os erros modernos no documento que se costuma chamar de Syllabus que significa catálogo, catálogo dos erros modernos.

Não! Mgr Faure não falou com orgulho, ou melhor, falou com justo orgulho de defender este Magistério infalível da Igreja contra os erros de Vaticano II. Mas como pode um Concílio ensinar erros? Eis a grande pergunta. Leiam pois as obras de Mgr Marcel Lefebvre. Estudem, aprofundem-se na Fé, pois o mal é grande e a abominação da desolação foi posta no lugar santo. A revolta no altar não está no Mosteiro da Santa Cruz. A revolta no altar – é triste repeti-lo – está no Vaticano.

Mas quem nos crerá? Quem saberá responder à pergunta: orgulho nosso ou preconceito da VEJA? Só estudando. Só rezando. Sem oração e estudo ninguém poderá encontrar a resposta. Ela está ao alcance de quem a procura, mas é preciso procurá-la. O que já dissemos é o suficiente. Agora, caro leitor, lhe cabe a sua parte, caso deseje tirar a limpo quem tem razão: a revista VEJA ou a Resistência. Bom trabalho.

Ir. Tomás de Aquino, O.S.B.

Eis algumas encíclicas, livros e artigos úteis para se compreender a crise atual e as causas da sagração de Mgr Faure:

Encíclica Mirari Vos de Gregório XVI

Encíclica Quanta Cura e Syllabus de Pio IX

Encíclica Libertas Praestantissimus de Leão XIII

Encíclica Humanum Genus de Leão XIII

Encíclica Pascendi de São Pio X

Carta Notre Charge Apostolique de São Pio X

Encíclica Divini Redemptoris de Pio XI

Comentários Eleison de Mgr Williamson

Do Liberalismo à Apostasia. Mgr Lefebvre. (Editora Permanência)

Catecismo da Crise na Igreja. Pe. Matthias Gaudron. (Editora Permanência)

O Liberalismo é Pecado. D. Felix Sarda y Salvany. (Edições do Mosteiro da Santa Cruz)

Conjuração Anticristã. Mgr Delassus. (Editora Castela)

O Golpe de Mestre de Satanás. Mgr Lefebvre. (Edições do Mosteiro da Santa Cruz)

A Missa de Lutero. Mgr Lefebvre. (Edições do Mosteiro da Santa Cruz)

O Pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer. (Editora Permanência)

Pedro, tu me amas? Daniel Le Roux (em preparação)

Le Sel de la Terre. revista dos dominicanos de Avrillé – França

Diversos sites e blogs tradicionais da Resistência, especialmente “Non Possumus”

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