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XIII – Confissão – A satisfação



A Satisfação


Em vez de dar uma instrução à parte sobre a satisfação ou penitência (que acompanharia à acusação dos pecados), farei a ela aqui poucas referências.

1 – Que é a satisfação?


Satisfação ou penitência é a oração ou outra obra boa, que o confessor ordena ao penitente, como expiação de seus pecados. Quando alguém se confessou, é verdade que seus pecados estão perdoados, mas não pagou de todo a sua dívida a Deus; e por isso deve extinguir essa dívida com obras de penitência. Eis por que os confessores impõem aos pecadores que se confessam uma penitência. Esta é para pagar toda a dívida.


2 – É uma obrigação


Sabe-se que toda culpa merece uma pena. E a culpa com que se ofende a Deus deve também ter a sua pena. Se a culpa é grave, merece o inferno; se é ligeira, merece uma pena temporal. Ora, deveis saber que no Batismo o pecado é inteiramente perdoado, isto é, quando à culpa e quanto à pena; na confissão, entretanto, é perdoado o pecado quanto à culpa (isto é, é retirada a mácula) e quanto à pena eterna (isto é, livra-se do inferno); mas a pena temporal, de modo comum, se deve cumprir ou nesta ou na outra vida; por isso que essa pena temporal não é senão uma comutação da pena eterna que se haja merecido com o pecado mortal. Por isso dizia Sto. Agostinho: “O pecado deve ser punido ou por nós mesmos ou por Deus”.


3 – Deus sempre exigiu satisfação


Deus sempre exigiu satisfação dos pecadores, após haver-lhes, em sua misericórdia, perdoado as culpas. Na Lei antiga quem houvesse pecado devia, após o perdão, aplacar a Deus, e tornar-se-lhe propício com jejuns, sacrifícios, esmolas, orações. Os israelitas, pecadores, obtiveram de Deus o perdão pelas preces de Moisés; mas como pena de seus pecados tiveram que passar 40 anos no deserto, antes de poderem entrar na terra prometida. Moisés mesmo obtém o perdão de seu pecado de desconfiança: mas o expiou com a penitência: viu só de longe a terra prometida, e lá não pode entrar. Davi teve o perdão de seus pecados; mas como pena deles experimentou todos os males e as desgraças que lhe predissera o profeta Natã. Os ninivitas, ante as ameaças do profeta Jonas, pediram perdão dos seus graves pecados, e obtiveram-no; mas fizeram penitência, e o rei foi o primeiro a se vestir de saco, cobrir-se de cinzas, e andava descalço.


4 – Os méritos de Jesus Cristo


Na Nova Lei (que é lei inteiramente de amor e de graça) o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus, com a sua paixão e morte, satisfez a divina justiça quanto aos nossos pecados; pagou ele a dívida por nós. Por conseguinte, na Confissão, nos são aplicados os méritos de Jesus Cristo, em virtude dos quais nos é perdoada a culpa e a pena eterna. E esses méritos e frutos da Paixão de Jesus Cristo nos são comunicados de sorte que se tornam méritos nossos. Mas Deus exige (e com direito) que também nós, quando nos é possível, façamos alguma coisa como satisfação dos nossos pecados, havendo feito o resto Jesus Cristo. Por isso, S. Paulo, entre as suas penitências, dizia: “Eu completo na minha carne o que fica dos padecimentos de Jesus Cristo: Adimpleo ea, quae desunt passionum Christi, in carne mea” (Cor 1, 24). E essa pequena satisfação Deus a exige de nós por duas razões:

a) Para fazer-nos compreender a gravidade dos nossos pecados;

b) Para que essa satisfação, ou penitência, nos sirva de remédio aos pecados e de preservativo contra as recaídas.


O exemplo dos Santos – Isso o entendiam bem os Santos que primeiro foram pecadores. Quando na confissão obtiveram o perdão de seus pecados, não se contentaram absolutamente com uma diminuta penitência, mas fizeram-nas aspérrimas e assaz longas.

S. Pedro que havia renegado Jesus, deplorou o seu pecado por toda a vida, de sorte que as lágrimas lhe sulcavam as faces.


A Madalena se retirou para fazer penitência numa gruta perto de Marselha.


Zaqueu, como reparação de suas culpas, deu esmolas imensas.


Até o bom ladrão fez penitência de suas culpas, no pouco tempo que lhe restava, ao oferecer a Deus, resignado, o sacrifício de sua vida ali na cruz.


Dizei o mesmo de tantos outros que de pecadores viraram santos.


S. Pedro de Alcântara, frade franciscano (+ 1582), em sua mocidade cometeu pecados dos quais fez penitência toda a vida. Trouxe sempre no corpo um áspero cilício, andava descalço e só comia uma vez por dia. Morava numa cela miserável sem qualquer assento, de sorte que devia estar sempre de pé ou ajoelhado, e dormia encostado na parede. Assim viveu por mais de 40 anos. Depois na morte apareceu a Santa Teresa e disse-lhe: “Oh! Feliz penitência que me proporcionou tão grande prêmio no Céu!”.


5 – A remissão até da pena temporal


Eu disse que por meio da absolvição na Confissão é perdoada toda a culpa; mas a pena eterna devida ao pecado, de ordinário, é apenas comutada em pena temporal, a ser cumprida nesta vida ou na outra no Purgatório. Contudo pode, às vezes, na Confissão, ser perdoada ao pecador até a pena temporal. E quanto ocorre isso? Quando o penitente tivesse uma extraordinária contrição.


Conclusão


1 – A respeito do propósito


Vistes a necessidade do propósito e as qualidades que deve ter. Toda vez, então, que vos confessardes, fazei um sério propósito de não cometer mais pecados. Poder-se-á então dizer até que estais realmente arrependidos. Lembrai, ó filhos, que com Deus não se brinca. Se vosso propósito for bom, Deus misericordioso perdoar-vos-á tudo; se for só de boca, ele negará absolutamente o seu perdão.


2 – A respeito da satisfação


Fazei bem e de bom grado a penitência que vos for imposta pelo confessor, porque isso trar-vos-á grande vantagem.


E se o confessor vos fixar também o tempo que deveis fazê-la, atendei a sua prescrição. De qualquer modo a fazei o mais depressa possível, para não olvidá-la, porque a penitência que dá o sacerdote faz parte do Sacramento, como é de estrita obrigação e requer maior urgência que qualquer outra oração.


Afinal, não vos contenteis só com a penitência imposta, que é bem pouca coisa, mas fazei outras. Além das orações e das boas obras, será uma penitência salutar o sofrer por amor de Deus, como expiação dos pecados, as tribulações e as dores da vida.


Assim cumprireis nesta vida a pena temporal devida aos vossos pecados, e não tereis mais de cumpri-la no fogo do Purgatório.


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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